terça-feira, 28 de julho de 2009
ávida espingarda
segunda-feira, 27 de julho de 2009
redoma ou pato amarelo de borracha
- Eu não consigo ouvir nada. – disse Ricardo, bem baixinho, articulando cada uma das sílabas. Isso causava uma pressão divertida aos ouvidos, e ele sentia todos os ossos do seu crânio.
Mesmo assim, não conseguiu escutar o que falava. Sua cabeça estava mergulhada na espuma da banheira, e a torneira aberta ao máximo era cachoeira em tromba d’água.
Fechou a torneira para a banheira esfriar aos poucos. Sem o som da água contra a água, descobria outros, que ecoavam de todo o apartamento, e até de outros andares do prédio. A pia gotejante. Sua mãe, provavelmente, atrapalhada com os armários da cozinha. O motor do elevador. Gemidos do sétimo... Mas a cada grau que a temperatura diminuía, ficava difícil não pensar também nas coisas ruins, pra lá da porta do banheiro.
À mesa, a mãe beijou-lhe a ponta dos dedos, apertou-os para aquecer, e serviu uma concha da sopa. O bafo subiu do prato ao rosto, fazendo-o suar.
- Lógico. Um dia você ia ter que.
- Não tô te ouvindo, não tô te ouvindo.
quinta-feira, 23 de julho de 2009
âncora
- Eu tenho muita coisa pra te contar.
Assim ele começou a conversa pelo celular.
- Então me conta.
Mordeu o lábio e esperou uma resposta. Elevou a voz:
- Não tô te ouvindo. Eu tô indo almoçar, e o telefone não pega bem no elevador.
Ela não escutou nada e, por alguma razão de que nem ela lembra, não pôde retornar a ligação.
Fazia dias que não conversavam. E o ímpeto de dizer espetava a garganta, de falar tanta coisa, sei lá o quê. A quantidade de idéias e palavras complicava a escolha de como começar, e a correria – corriam como cavalos para se encontrar apenas sobre um colchão de feno – dificultava um pouco mais. A vontade passava, e dava um sono nele. Relinchavam, exaustos.
- Você disse que tinha coisas para me contar.
Ele fingiu que roncava.
Com o tempo, ela reparava, aqui e ali, um jeito no olhar dele. Toda vez que ela via esse olhar, ela se surpreendia, como se fosse pela primeira vez. Dizia-se que era uma besteira, coisa de homem, homem é calado mesmo. Ou era medo de saber?
Aos fins de semana, quando ele fumava - mesmo quando estavam no meio de uma conversa corriqueira sobre trabalho ou falando mal de algum conhecido - parecia que o fogo trazia a ele uma aura sagrada. Entre uma palavra e outra ditas de maneira frívola, um lampejo daquele olhar aparecia, e era como se seu marido se tornasse cerebral e melancólico para, então, retornar a conversa, ainda mais empolgado. E ela procurou se sentir abençoada por ter um marido misterioso como o seu. Não duvidava que suas colegas de escritório fossem felizes. Mas não como ela. Elas também amavam, mas cabia tédio em seus amores. Ela era única - seu marido tinha alma de quem desbrava continentes, apesar de seu corpo escrever relatórios. Uma papada começava a crescer no pescoço dele.
- Eu tenho muita coisa pra te contar.
Ele tinha perdido a conta de quantas vezes tinha dito essa frase em 12 anos.
- Vá primeiro dar o seu mergulho, meu amor. Enquanto isso, me bronzeio. Conversamos depois.
Ele concordou, com a cabeça balançando lenta. Ele estava pesado, e caminhou com a elegância de um paquiderme até dentro d’água. Ela observou o seu andar, seu corpo. Estavam ficando velhos e, mesmo assim, ela sorriu satisfeita. Ele era um homem, calado e bronco, como os de antigamente.
Ele, assim que entrou no mar o suficiente para não dar pé, afundou.
Ela chorou muito, mas sequer se perguntou o que tanto ele queria lhe dizer.
terça-feira, 21 de julho de 2009
$9.99 Altamente recomendável
Acabo de voltar do Rio, e lá vi algumas sessões de curtas do Anima Mundi, e tbm o longa australiano $9,99. Vc que está por São Paulo, programa-se e veja, vale a pena. O filme é lindo, poesia pura sobre o significado da vida e sobre a crise da masculinidade - 99,9% dos personagens são homens, e todos abandonados por suas mulheres.
quarta-feira, 15 de julho de 2009
possível (como tudo)
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Abraço de Mãe
Participei de um concurso literário da revista piauí. O lance era fazer um conto baseado nessa ilustração. Pois bem, aí segue o meu, se quiser ler o do vencedor, clique aqui.
“Encontrei-a estendida. Eu tinha oito anos. Íamos assistir Vestido de Noiva, depois da insistência de papai. Abri a porta. Lá estava ela, se abraçando, como se buscasse em si um carinho que o marido não soube dar, que a vida reteu.
pandeiro de couro de gato
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Cenicero, mi cenicero Mi corazón, mi cenicero
And used it to stub out cigarettes
I listened to your screams of pleasure
And I watch the bedsheets turn blood red