quinta-feira, 25 de junho de 2009

A Erva do Rato

ser ou não ser, eis o ratão

Agora, depois de dois dias de digestão desde que vi a pré-estreia de A Erva do Rato, do Bressane, posso finalmente dizer que adorei o filme. Por mais que tenha me incomodado intensamente, arrancado gargalhadas, e até nojo, o filme é bizarramente lindo, plasticamente lindo.

Possibilidades mil para metáforas tão bem construídas. O casal Senton Mello e Alessandra Negrini (belíssima e em atuação corajosa) tem uma relação metódica e funcional. Tomam chá, ela escreve os seus ditados à mão, com a rapidez de uma máquina de escrever. A aparente frieza da relação vai num crescente de força sexual: o personagem de Selton Mello começa a fotografar sua companheira. Depois de reveladas, eles analisam as fotos com atenção. Como se não bastasse, as fotos começam a virar closes, e de closes, super closes das genitálias dela. E ainda assim, ele precisa ver as fotos com uma lupa. Tudo no filme dá-se a conhecer pela imagem. Esses personagens vivem juntos, trabalham juntos, mas só conseguem se satisfazer em relação a si mesmos e ao outro, quando vêem a imagem do outro ou de si capturadas. Até que um rato chega para acabar com toda essa calmaria, e roe as fotos da mulher. Ele come pedaços das fotos que expõem suas genitálias, o que cria ódio da parte do personagem de Selton Mello, que encara isso como um excesso de intimidade do rato com a sua companheira. E ele está certo.

Posso estar viajando - mas foda-se, esse filme é uma viagem - acho que Bressane está falando do próprio fazer cinema, da relação metódica, complexa e organizada que precisa ser fazer cinema, e ao mesmo tempo a grande erotização que há em querer capturar uma imagem específica. No fim do filme, entre os créditos, vemos não menos bizarras imagens de Bressane dirigindo os atores, o que, para mim, reforça essa minha teoria. Só que além disso, o filme está falando de milhões de outras coisas, este filme é daqueles especiais, que não tem fim em nossas cabeças, e a cada dia criamos relações diferentes dentro dele. Ah, e o rato? Bem, o rato é um outro post inteiro.

Enfim, o filme é bem complexinho, e dada a minha nítida dificuldade de escrever a respeito, parace que ainda o estou digerindo. Bom, então chega de enrolação e não conto mais nada, para não estragar maiores surpresa.

Um comentário:

Sergio K. disse...

Você fala da dificuldade de escrever sobre o filme, como assim? Que dificuldade? Me deu uma baita vontade de assisti-lo.