quarta-feira, 6 de maio de 2009

Fobia do fim do filme


FilmeFobia é o melhor filme que assisti nesse ano. Tinha muito interesse em vê-lo, muitas expectativas. E quando vou com expectativas ao cinema, geralmente me decepciono. Mesmo assim, ele conseguiu superá-las. Muito além de falar sobre fobias, trata sobre o próprio fazer cinema. O personagem de Jean Claude Bernardet - que representa o diretor do filme sobre fóbicos, dentro do “falso” making of realizado por Kiko Goifman – busca incessantemente a única e verdadeira imagem, “a de um fóbico diante de sua fobia”. Obcecado por essa imagem pura, aos poucos percebemos que a grande fobia do filme está no próprio diretor que teme perder a visão - Jean Claude no oftalmologista é uma das imagens chaves do filme – e a própria morte. Como tantos já teorizaram a respeito, contar uma história, narrativizar, é sempre uma tentativa de superar a morte. O que Jean Claude não entende é que não existe imagem pura e na sua busca obsessiva pelo impossível acaba enchendo a imagem dos fóbicos com parafernálias loucas (e lindas) dignas de filme de horror americano e não conseguindo sequer uma imagem realmente significativa das pessoas que participam/atuam no filme. FilmeFobia é uma análise fiel da espetaculazarização dos dias de hoje, e do excesso de imagens e informações, que nos afastam da imagem simples (talvez por não existir imagem simples). O que resta do filme feito por Bernardet dentro do filme de Kiko são apenas as parafernálias, e não a reação dos fóbicos. Com muita classe e originalidade, Kiko mostra que não existe verdade, existem apenas os meios de contar uma verdade, existem apenas escolhas narrativas – o que é ainda mais interessante vindo de um (até então) documentarista. Interessante notar que entre todas as imagens de fóbicos do filme e nós espectadores existe sempre algo (uma máscara, um espelho, um capacete, um aparelho bizarro)... Para mim, essa é a maneira perfeita de representar que não existe verdade, não existe o medo do fóbico: existem apenas maneiras de apresentar esses medos ao público. Não há imagem pura, há sempre um viés, um recorte.

Parabéns ao Espaço Unibanco Augusta por ser o único cinema a exibi-lo. Assistam pelo amor de santo antonio califórnia.
ps: a imagem do fóbico que é alçado aos ares com duas araras nos ombros é incrível, simplesmente por não nos revelar qual é a fobia daquela pessoa. é a imagem pela imagem, linda por ser tão intrigante. site do filme aqui.


Continua escrevendo, continua escrevendo...

3 comentários:

juliana amato disse...

nossa, gunmy, arrasou... adorei mesmo o que escreveu sobre. vou linkar lá no meu. peixinho.

juliana amato disse...

ai, sabe o que é muito doido também que nem falamos? as ações por aí de divulgação do filme... achei loco tb... beixingo.

Luciano Marra disse...

Rapá, sabe que estava com uma dúvida de shake entre ser e não ir... mas depois do que você escreveu, pimba! Vou sim. P.S. Penso que crítica verdadeira é isso, o sujeito pega a caneta e se posiciona com coragem na frente do que viu, parabéns.